quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

VIDA DE SANTA GEMMA GALGANI








Vida de uma Santa

Atrás de uma aparência normal se esconde uma Santa extraordinária. Uma mística em contínuo e afetuoso diálogo com Jesus. Uma contemplativa que reza com a simplicidade de uma moça e a profundidade de um teólogo. Supera as mais terríveis dificuldades deixando-se guiar pelo seu Anjo da Guarda. Desde moça mantém a alma cândida com a firme intenção de uma vida imaculada.

Gemma nasce em Borgonuovo de Casigliano (Lucca) no dia 12 de Março de 1878. Enquanto recebe a crésima na Igreja de S. Miguel em Foro, Jesus lhe pede o sacrifício da mãe. Aos 18 anos se opera ao pé sem anestesia e no dia de Natal do mesmo ano, faz o voto de castidade. Gemma fica orfã cedo,quase abandonada na maior miséria.

Já com 20 anos, Gemma não aceita uma proposta de casamento, por ser «toda de Jesus». Durante este ano fica curada milagrosamente de problemas na espinha e iniciam as experiências místicas. A chamam, na cidade, «a mocinha da graça».

Fala com o seu Anjo da Guarda e lhe dá também encargos delicados, como aquele de entregar em Roma a correspondência ao seu director espiritual. «A carta, apenas terminada, a deu ao Anjo, ela escreve. Está aqui perto de mim que espera». E as cartas, misteriosamente, chegavam a destinação sem passar através do Correio do Reino.

Em Junho de 1899, Cristo lhe dá o dom dos estigmas. No mesmo ano, durante a missão em S. Martino, Gemma conhece os padres Passionistas que a introduzem na casa Giannini. Acolhida como uma filha nesta casa devota e rica, conduz uma vida retirada entre casa e Igreja. Mas as manifestações da sua santidade superam os muros da casa patrícia. Faz conversões, prediz acontecimentos futuros, cai em êxtase. Na oração, sua sangue; no seu corpo, além dos sinais dos pregos, aparecem as chagas da flagelação. Aqui conhece Padre Germano que dirigirá as suas confidências.

Logo se vem a saber que as suas luvas pretas e a sua veste escura e estreita escondem os sigilos da Paixão. Estes estigmas se abrem, dolorosas e sanguinolentas, toda semana, na véspera das sextas-feira.

Diante dela os cientistas não conseguem esconder o embaraço. Até alguns directores espirituais não sabem como justificar a extraordinária moça: suspeitam de mistificação, falam de histerismo ou de sugestão, pedem provas, exigem obediência.

Somente ela, Gemma Galgani, no meio das dores físicas e às provas morais, não diz nada, ou melhor, diz sempre sim. Não pede nada, ou melhor, pede a Jesus para si, mais dores e para os outros pede a conversão e a salvação.

No ano 1901, com 23 anos, Gemma escreve por ordem de Padre Germano, a Autobiografia, "O caderno dos meus pecados". No ano seguinte se oferece vítima ao Senhor para a salvação dos pecadores. Jesus a pede de fundar um mosteiro de clausura Passionista em Lucca. Gemma responde com entusiasmo. No mês de Setembro do mesmo ano adoece gravemente. A sua vida é marcada profundamente da dor.

Começa o período mais escuro da sua vida. As consequências do pecado caem pesadamente sobre o seu corpo e sua alma. No ano 1903, era um Sábado Santo, Gemma Galgani morre aos 25 anos, devorada do mal, mas pedindo até ao último momento ainda mais dor.

O Sumo Pontífice Pio X assina no ano 1903, o Decreto de fundação do Mosteiro Passionista em Lucca.

Em 1905 as irmãs de clausura Passionistas iniciam a sua presença em Luca, realizando o antigo desejo que Jesus tinha feito a Gemma.

Padre Germano, director espiritual de Gemma, escreve em 1907 a primeira biografia. Iniciam os processo canónicos para o reconhecimento da sua santidade.

No ano 1933 Pio XI inclui Gemma Galgani entre os Beatos da Igreja.

Será Pio XII, no ano 1940 a elevar Gemma Galgani à glória dos Santos e indicá-la modelo da Igreja universal pelas suas virtudes cristãs.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

A VISITA DOS REIS MAGOS AO MENINO JESUS


Frei Neylor J. Tonin
Os presentes dos Reis Magos
O dia 6 de janeiro sempre foi, tradicionalmente, o DIA DOS REIS MAGOS. Os presépios, neste dia, se enriqueciam com a presença deles, com seus presentes, e a de seus camelos. Na imaginação infantil, e de muita gente adulta, os Reis Magos significam presentes, porque eles presentearam Jesus com “ouro, incenso e mirra”. Atualmente, a Liturgia da chegada dos Reis Magos é celebrada no 2o. Domingo do ano. Reflitamos um pouco sobre os presentes dos Reis Magos e sobre os presentes que nós podemos dar a Deus e aos outros.

Há um princípio que é comum a todas as escolas de espiritualidade: o princípio do auto-esquecimento. Segundo ele, para ser espiritual, a pessoa deve esquecer-se, não podendo viver para si, porque o eu é uma prisão sombria e de ares rarefeitos. Dentro dela não há sol, achar graça de si mesmo não tem nenhuma graça, quem nela vive, vive perdido e desencontrado, torna-se pequeno e infecundo, em seu interior não acontece a festa da vida. A casa das pessoas espirituais, na verdade, ensinam os Mestres, é o mundo, a grande vida, para a qual devem viver de coração aberto, sempre dispostas à admiração e permitindo que as surpresas aconteçam.

Lembro-te, QUERIDO OUVINTE, desta verdade que é ponto fundamental de todos os itinerários espirituais. O místico muçulmano Yunaid, por exemplo, assim ensinou: “Para ser sufi (homem penitente e de fé superior), é preciso desfazer-se de toda preocupação. E a pior de todas as preocupações é a do eu. Enquanto te preocupares contigo mesmo, estás longe de Deus. O caminho que leva a Ele exige um só passo: sair de si mesmo. Para renunciares a ti, deves ter as mãos vazias de riquezas e o coração vazio de todo apego”.

Em outras palavras, sozinho ninguém é rico. A nossa riqueza são os outros e o Grande Outro. A fecundidade de nossa vida depende dos outros. Mendigo não é quem tem pouco, mas quem vive abraçado a si mesmo e fechado sobre seu eu. O caminho que leva à riqueza exige um só passo: sair de si mesmo.

Foi isso que fizeram os Reis Magos. Saíram de si mesmos. Partiram de seus países, do conforto de suas casas, guiados e fascinados pelo brilho de uma estrela. Temos poucos dados sobre esses misteriosos Reis, mas a Tradição guardou seus nomes: GASPAR, BELCHIOR E BALTAZAR. Teriam vindo de muito longe, de terras orientais. O primeiro teria sido branco, o segundo negro e o último amarelo, representantes das três raças então conhecidas. Vieram com camelos e uma comitiva de servos. Eram sábios. Após muitas andanças e peripécias, encontraram e ofereceram ao Menino Jesus ouro (porque o recém nascido era Rei), incenso (porque era Deus) e mirra (porque experimentaria amargos sofrimentos e seria chamado de “o homem das dores”).

E tu, como os Reis Magos, tens coragem de sair de tua casa, dando aquele passo fundamental da espiritualidade, que é, lembrar-se do outros e auto-esquecer-se? Que tens para oferecer a Deus? Dás a Ele o melhor de tua vida, o ouro de tua vontade, tua saúde e família, teus negócios e talentos, a beleza de tua idade, teus desejos mais acalentados, teus sonhos mais queridos e pulsantes? Lembra-te: a um Rei não se pode dar migalhas, a menos que migalhas seja tudo que se tem. Com um Rei não se pode regatear nem ser parcimonioso, oferecendo-lhe, com medo, apenas as sobras do fundo do próprio cofre. Se vale isso em relação a um Rei, muito mais em relação a Deus. Dar ouro a Deus pode parecer pouco, mas, na verdade, ele merece todo o ouro como demonstração de entrega, de amor e adoração.

Antigamente, só a Deus se queimava incenso. Daí, a pergunta decorrente: a quem estás queimando o melhor incenso de tua vida? Aos ídolos da riqueza, do poder, da fama, da ambição, do teu agitado eu? Estás destinando teus melhores incensos para ídolos que têm boca, mas não falam, têm ouvidos, mas não escutam, têm pés de barro que mal se sustentam? Deus, o Deus verdadeiro, dizem as Escrituras, tem palavras de vida eterna, ouve os clamores de seu povo e brinca com os dragões do mar. Quem é o teu Deus? Para o Deus verdadeiro, estás disposto a sair de ti mesmo, a abandonar tudo, acreditando no brilho misterioso de uma estrela, que só se fará luminosa com a coragem da fé?

O último Rei lhe ofereceu mirra, uma substância amarga. Já pensaste em oferecer a Deus as mirras de tua vida? Aliás, quais são as tuas mirras? A idade? Teu casamento? Teu filho que não quer estudar e/ou trabalhar, que é dependente das drogas? Ou a mirra será a tua posição social? Tua origem humilde, da qual sentes desdouro, ou teus irmãos que se degladiam por uns míseros trocados, deixados em herança por teus pais? Mirra é, para ti, o tratamento que recebes em tua empresa ou, mesmo, em tua Igreja? É mirra, para ti, teu rosto sem grande formosura ou teu corpo que rejeitas, as traições inesperadas de um amigo, a venalidade de um advogado ou a imperícia de um médico que te mal-tratou? Na verdade, todas as vidas têm as suas mirras. Já ofereceste as tuas a Deus ou vives tristemente revoltado com elas?

É fácil fazer bonito e ser aplaudido. É fácil ser pródigo e caridoso com os pobres para merecer a consideração dos outros. Ser vaidoso é uma grande tentação. Difícil é dar o ouro que se tem e entregar a mirra amarga que mais nos dói. Mas isso só conseguiremos, vivendo esquecidos de nós mesmos e atentos ao brilho das estrelas.

Lembrem-se, QUERIDOS AMIGOS, precisamos sair de nós mesmos. Temos que pôr nossos olhos no céu para tentar descobrir a estrela que nos levará para Deus, um Deus pequeno, talvez, como um menino, que se esconde numa manjedoura entre bois, ovelhas e jumentinhos. Lá, quem sabe?, encontraremos também um pobre casal que fala com os Anjos e com o Espírito Santo. Saiamos de nós mesmos, sejamos ousados e generosos, ofereçamos o que temos de melhor, o ouro e o incenso de nossas vidas; abramos-nos para a amplidão do céu e para o mistério da vida, onde Deus continua a armar sua tenda e a passear com os homens de boa vontade. Uma estrela, então, brilhará para nós e nosso coração transbordará de luz, de paz e de alegria. E Reis Magos nos visitarão e haverá muita festa em nosso pequeno mundo.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

A MULTIPLICAÇÃO DOS PÃES-ESPIRITUALIDADE



A multiplicação dos pães – O pouco que Deus faz muito
Espiritualidade

José Ricardo F. Bezerra
Consagrado na Comunidade de Aliança Shalom

Certamente já conhece o trecho da multiplicação dos pães, com a qual faremos a Lectio Divina este mês. Muitas pessoas sentem dificuldades com a leitura orante da Palavra de Deus porque não seguem os passos indicados de leitura, meditação, oração e contemplação. Leia em voz alta ou à meia voz, duas ou três vezes, assim você estará exercitando pelo menos dois sentidos, visão e audição e reduz a distração.
Tome Mt 14,13-21. Procure ler, neste primeiro momento, o que o texto diz, qual o contexto, o ambiente em que se situa o texto lido, para quem é dirigido, o que acontece na cena etc. Depois, faça outras leituras silenciosas procurando meditar o que aquelas palavras, gestos ou acontecimentos significam para você hoje. Veja sua vida, os fatos mais recentes que possam ser iluminados ou entendidos à luz desta palavra. Em seguida, faça sua oração em resposta ao que Deus lhe mostrou. Agradeça a bondade, a misericórdia e amor de Deus que vem a cada dia em sua vida. Por fim, contemple uma faceta da beleza de um mistério de Deus extraído da passagem.
"Jesus, ouvindo isso, partiu dali, de barco, por um lugar deserto, afastado." (v.13a). Jesus ouvira falar a respeito do martírio de João Batista e chama os discípulos para um deserto, afastado, provavelmente para orar e meditar sobre aquele facto. Ele não está longe da nossa realidade. Ele conhece nossos sofrimentos e as dores do dia-a-dia e sempre nos chama para orar e meditar sobre nossa vida, sobre aquilo que nos preocupa. Ele é concreto e não se omite, mesmo quando o imaginamos ausente ou distante de nós.
"Assim que as multidões o souberam, vieram das cidades, seguindo-o a pé." (v.13b). As pessoas não tiraram os olhos de Jesus, e foram para onde Jesus se dirigia. Connosco, às vezes ocorre ficarmos inertes ou olhando para nós mesmos ou para outras coisas, em vez de olhar Jesus e buscá-lo aonde Ele estiver. “Assim que desembarcou, viu uma grande multidão e, tomado de compaixão, curou os doentes.” (v.14). Jesus desejava recolher-se com os discípulos em lugar deserto, mas ao encontrar a multidão, compadeceu-se dela e curou os doentes. Aqueles que confiaram e seguiram Jesus, foram curados, pois o Senhor é piedade e compaixão (Sl 145,8).
“Chegada a tarde, aproximaram-se dele os discípulos, dizendo: o lugar é deserto, e a hora já está avançada. Despede as multidões para que vão aos povoados comprar alimentos para si.” (v.15). Os discípulos estavam preocupados com o povo, pois não viam, humanamente, como fazer para alimentar aquelas pessoas. O jeito mais fácil era mandá-las embora. Também nós muitas vezes vemos apenas o lado humano, esquecendo de perguntar a Deus o que Ele deseja diante daquele problema ou situação em que nos encontramos. “Mas Jesus lhes disse: “Não é preciso que vão embora. Dai-lhes vós mesmos de comer” (v.16). Parece incrível a proposta de Jesus. E às vezes até duvidamos daquilo que Ele nos pede. Mas Ele nada nos pede sem dar-nos condições e meios para realizarmos. “Dá-me o que me pedes e pedes o que quiseres” rezava um grande santo.
“Os discípulos responderam: só temos aqui cinco pães e dois peixes” (v.17). Às vezes queremos nos desculpar diante de Deus, achando que não temos condições ou colocando nossas limitações. Mas, quando nos apresentamos como somos e com o que temos, Deus faz o maravilhoso. Do pouco Ele faz muito. Do ignorante Ele faz sábio. Da pobreza nos dá riqueza. Do fraco Ele faz forte. São as contradições do Reino que só experimentam os pobres de coração, os que têm coragem de confiar em Deus e se lançar em sua misericórdia.
“Trazei-os aqui” (v.18). Leve a Jesus aquilo que você é e o que tem. Leve a Ele aquela situação, aquele familiar ou amigo que lhe preocupa. Não queira cuidar do seu jeito: Trazei-os aqui, diz Jesus. “E tendo mandado que as multidões se acomodassem na grama, tomou os cinco pães e os dois peixes, elevou os olhos ao céu e abençoou (v.19a). Note a delicadeza de Jesus, que cuida para que eles se acomodem na grama, antes de fazer o milagre. Assim Ele também cuida de nós, dando-nos mimos e detalhes que às vezes nem percebemos. “Elevou os olhos ao céu e abençoou: Quantas vezes temos elevado os olhos ao céu para suplicar de Deus alguma graça? Quantas vezes temos pedido a bênção do céu sobre os alimentos e refeições que tomamos? O que fazemos na simplicidade, Deus realiza na verdade. A bênção é uma palavra eficaz que transmite o efeito que nela se exprime.
"Todos comeram e ficaram saciados, e ainda recolheram doze cestos cheios dos pedaços que sobraram" (v.20). O que tinha antes cinco pães e dois peixes, agora podia dispor de doze cestos, depois de ter alimentado a multidão. “Deus nunca se deixa vencer em generosidade". Por mais que possamos dar a Ele, muito mais, cem vezes mais Ele nos dará.
"Ora, os que comeram eram cerca de cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças". Talvez o número de mulheres e crianças fosse igual ao dos homens, ou até mesmo maior. Portanto, o milagre de Jesus foi bem maior do que pensamos ao ler o texto apressadamente. "Para Deus, com efeito, nada é impossível" (Lc 1,37).