sexta-feira, 30 de outubro de 2009

O CANCRO EM HOMENS-DIA MUNDIAL DO CANCRO







O câncer de mama é bem mais raro entre os homens, mas, não pode ser ignorado. A estimativa do Inca (Instituto Nacional do Câncer), órgão ligado ao Ministério da Saúde, é que a doença deve atingir 28.340 mulheres este ano, com previsão de 8.245 óbitos. Atenção: esses são apenas os novos casos.
Índices internacionais mostram que, para cada 100 mulheres com câncer de mama, um homem é afetado (1%). Entre os brasileiros, essa percentagem seria de 0,65%, segundo o Hospital do Câncer de São Paulo, atingindo principalmente pacientes com mais de 60 anos. Considerando a previsão do Inca para o câncer feminino, cerca de 185 homens serão acometidos pela doença este ano.
Nos EUA, onde as estatísticas são mais apuradas, a previsão de novos casos de câncer de mama em mulheres é de 180 mil, cinco vezes mais que no Brasil. Os norte-americanos calculam que 1.400 homens serão atingidos pela doença e 400 deverão morrer em decorrência dela. No Brasil, os especialistas concordam que os números são subestimados. Na região de Ribeirão Preto (interior de SP), onde Renato mora, o ambulatório de mastologia do Hospital das Clínicas registrou nesta década pelo menos dez casos. Um a cada ano, em média. Metade dos pacientes morreu por causa da demora no diagnóstico.
Embora os números não sejam alarmantes, um pouco de informação e menos preconceito ajudariam a evitar sofrimento e até mortes.
Segundo Mário Mourão Netto, diretor do departamento de mastologia do Hospital do Câncer, a maioria do casos é descoberta de forma tardia, muitas vezes por desconhecimento do próprio médico, não-especializado.
No caso do maquinista Renato, quem percebeu o pequeno tumor, menor que um grão de feijão, foi sua mulher, Rosângela, 37. "Era duro. Não saía do lugar", conta ela. De início, ele não se preocupou. "Pensei que fosse apenas um nódulo, um lobinho", diz Renato.
Ao contrário do tumor cancerígeno, o "lobinho" -na maioria das vezes, a primeira identificação errada feita do nódulo- é um caroço formado por excesso de gordura gerada pelo organismo e não traz nenhuma conseqüência negativa ao portador, exceto a estética.
Mas, um mês e meio depois, o caroço estava maior que uma azeitona, e o casal resolveu procurar um médico. "Se eu tivesse ido logo no primeiro dia, não teria perdido minha mama inteira", lamenta Renato.
Quando mais tempo o paciente demora, menos chances tem de controlar a doença, que pode se alastrar por outras partes do corpo. Ossos, pulmão e fígado são as vítimas preferenciais da invasão do tumor.
Foi o que aconteceu com Renato. Depois de retirar a mama, em junho do mesmo ano, no HC de Ribeirão Preto, ele se submeteu a sessões de rádio e quimioterapia para conter a possível multiplicação das células cancerígenas. Foram seis meses marcados por enjôos, vômitos e depressão.
Dois anos depois, porém, o câncer havia atingido a coluna e a bacia. Renato chegou a ficar 21 dias de cama, com dificuldade para andar. Sua fragilidade era tamanha que um espirro fez com que quebrasse uma das costelas. "O ano de 96 ficará marcado na minha memória. O médico disse que o meu marido não teria mais que três meses de vida e que, mesmo assim, tinha que continuar as sessões só para aliviar sua dor", conta Rosângela.
Renato não abandonou o tratamento convencional, mas experimentou outras alternativas de cura e, a pedido do médico, largou o cigarro -fumava um maço por dia, em média, desde os 18 anos.
O fumo é apontado como um dos principais carcinógenos. Os fumantes apresentam um risco relativo dez vezes maior do que os não-fumantes de desenvolver câncer de pulmão, bexiga e no aparelho digestivo, por exemplo.
Outro fator que merece atenção é o histórico familiar. A bisavó de Renato, por exemplo, morreu de câncer no útero. A incidência em famílias que já registraram casos da doença é maior do que em outras sem antecedentes. Em alguns casos, o risco pode dobrar.
O problema, diz Mário Mourão Netto, é que a maioria das pessoas ignora que é possível diagnosticar, com antecedência, a possibilidade de desenvolver câncer por hereditariedade. Mário cita exames de sangue que permitem estudar a presença de genes supressores de câncer (que surgem para inibir a doença), principalmente de cólon e mama.
Se o exame detecta que um determinado gene sofreu mutação, a pessoa tem chances de vir a desenvolver a doença. A partir daí é possível fazer um tratamento de prevenção com medicamentos. "Graças a esse novo tipo de identificação, é possível evitar que o câncer venha a se manifestar em até 60% dos casos", diz o médico.
Além do fator hereditário, os grupos de risco masculino são os que sofrem de ginecomastia (aumento do volume da mama), quem foi exposto à radiação, tem problemas de fígado e próstata e quem fez tratamento com estrógeno, além de homens que tiveram doenças testiculares (como caxumba) e, conseqüentemente, produzem menos hormônios sexuais masculinos.

Suspeita da mulher
Com medo da herança genética, o metalúrgico aposentado Luiz Carlos Furlani, 55, de São Paulo, quer convencer suas sobrinhas a fazer o exame de identificação de genes. A doença já atingiu quatro membros de sua família (três irmãs e uma outra sobrinha) -além dele.
Casado e pai de dois filhos, Luiz descobriu o caroço no segundo semestre de 96, também durante o banho. "Na hora pensei que fosse câncer. Fiquei mal, achei que iria morrer, como minhas irmãs." Ainda assim, preferiu o silêncio e, durante três meses, escondeu o nódulo da mulher e dos dois filhos.
Mas a angústia ficou. "Suspeitei que fosse outra mulher, porque ele mudou o jeito de agir. Cogitei até me separar", lembra a mulher, Gilda Maria de Jesus, 49. Cobrado, Luiz abriu o jogo.
A mama foi retirada no início de 97, no Hospital do Câncer, em São Paulo. O câncer estacionou, sem necessidade de químio ou radioterapia. "A nossa sorte foi não esperar o nódulo crescer para procurar um especialista. Outro ponto fundamental foi nos mantermos unidos. Se houve alguma coisa boa nisso, foi a nossa união. Passamos a dar mais valor à vida", lembra Gilda.
Três meses depois de retirar a mama, Luiz, que gosta de ir à praia todos os finais de semana, enfrentou o desafio de caminhar em público, o corte à mostra. "No começo, é claro, a gente se sente incomodado, principalmente quando crianças e jovens ficam olhando." Nessa época, jogava a camisa sobre os ombros, parte dela cobrindo a cicatriz. Depois, relaxou. "Com o tempo, você acaba esquecendo. A cicatriz é o de menos, é um sinal de que estou curado."
O diagnóstico precoce e o tratamento preventivo não estavam disponíveis em 89, quando Francisco Peres Romero, 71, descobriu que tinha câncer de mama. Há cerca de 20 anos, a irmã mais velha de Francisco, então com 67 anos, morreu em conseqüência da mesma doença.
Casado, pai de um único filho e avô de dois netos adolescentes, Francisco percebeu um pequeno caroço no lado direito da mama no momento em que tomava banho -o meio mais comum de descobrir o tumor.
"Não doía nem incomodava. Devagarinho, o caroço foi crescendo", conta Francisco. Um ano e meio depois, ele acordou no meio da noite com uma forte dor na região do nódulo, atingida por uma cotovelada de sua mulher, Hermelinda Cozzi Peres. A região infeccionou, o que acabou levando Francisco ao médico e, na seqüência, à mesa de cirurgia.
O aposentado foi operado somente em junho de 91, uma pequena cirurgia para a retirada de tecido para análise. "Demorou muito. Acho que o médico devia ter sido procurado assim que eu descobri o caroço", diz ele. No mês seguinte, o aposentado voltou a ser operado, dessa vez para a retirada da mama.
A recuperação levou um ano e meio, com uma maratona de sessões de rádio e quimioterapia. Atualmente, o câncer está estabilizado, e Francisco faz exames regularmente, a cada seis meses. "Comecei a viver novamente."
É o caso do advogado Francisco Crocco, 76, que, em julho de 98, também passou por uma cirurgia para retirada da mama esquerda. Ao contrário da maioria dos pacientes, Crocco foi rápido. Cerca de 45 dias após a descoberta do nódulo, já estava em uma mesa de cirurgia.
"Acho que demorei até demais. Fui tranqüilo. Pensava assim: "Nem toda dor de cabeça é um tumor, nem toda dor de estômago é uma úlcera. Não pensei em câncer", lembra o advogado. Crocco também descobriu o nódulo durante o banho. Era pequeno, mas não o desprezou. Crocco também descobriu o nódulo durante o banho. Era pequeno, mas não o desprezou.
Fazer um auto-exame de mama nem passa pela cabeça da grande maioria dos homens. Muitos nem se lembram que têm mama. Os músculos que saltam na hora de "puxar ferro" são apenas parte que costumamos chamar de peito. A mama masculina é incipiente. Ela fica atrás do bico (mamilo), auréola e o músculo grande peitoral. Quando crianças, meninos e meninas têm mamas praticamente iguais: são mamilos sobre superfícies lisas. Na adolescência, a produção de estrógeno provoca o crescimento dos seios e a formação das glândulas mamárias nas mulheres.
O baixo estímulo dos hormônios sexuais femininos (estrógenos) impede o desenvolvimento de seios nos homens. Mas eles mantêm os "vestígios" da mama. O câncer de mama é visualmente mais fácil de ser percebido no homem do que na mulher _um caroço pequeno pode nem ser notado em um seio.
A cada seis meses, Crocco volta ao médico para exames periódicos, que avaliam a estabilidade da doença. "Essa palavra precisa ser desmistificada entre a população. O câncer não é mais o que era há 50, 10 anos, e hoje novas formas de combatê-lo estão surgindo", afirma.
"Câncer para mim é um assunto totalmente encerrado. O que eu quero é chegar aos 100 anos de idade, comendo pizza e tomando cerveja sem álcool", afirma Crocco.
É a mesma sensação vivida pelo maquinista Renato, que, na semana passada, comemorava os seis meses de sua filha mais nova -uma consequência positiva e imprevista do câncer. "Os médicos diziam que químio e radioterapia poderiam provocar a esterilidade dele e eu parei com as pílulas", conta Rosângela.
A gravidez não foi nada fácil. Além de uma depressão provocada pelo risco de perder o marido, Rosângela morria de medo de que o bebê nascesse com problemas. O parto foi um alívio.
Para comemorar, a criança ganhou o nome de Victória. "Ela representa a vida, pois nunca desistimos, apesar de todas as dificuldades", diz Rosân

A cirurgia é o primeiro passo no tratamento contra o câncer de mama masculino -e é indispensável em todos os casos.
Depois que o tumor é descoberto, é necessário retirar uma amostra de tecido (biópsia) para descobrir se ele é cancerígeno e a quantidade de células doentes.
Caso seja detectado o câncer, o paciente tem que se submeter à retirada da mama e ao esvaziamento da axila afetada.
Isso ocorre porque, depois da mama, o primeiro local atingido pelo câncer são os gânglios axilares, explica o mastologista do Hospital das Clínicas Roberto Hegg, 52, professor da USP, especialista em oncologia.
"A cirurgia pode durar de duas a três horas, e o paciente, em média, não fica mais que três dias no hospital", afirma Roberto.
Depois da retirada do tumor, dependendo da manifestação da doença no organismo, vêm os chamados tratamentos pós-cirúrgicos: quimioterapia, radioterapia e hormonoterapia. Esses também são, geralmente, os mesmos procedimentos adotados em mulheres com câncer de mama.
Na fase da quimioterapia, em que são aplicados medicamentos para combater células cancerígenas remanescentes, o paciente pode sofrer queda de cabelo, enjôos e vômitos. "Mas nada disso inviabiliza o tratamento", diz o médico.
Essa fase pode durar de seis a oito meses, mas o prazo também depende da reação das células cancerígenas restantes.
Em outra etapa complementar à cirurgia, na radioterapia, a emissão de raios cobaltos, por exemplo, também tem como objetivo eliminar as células cancerígenas. Geralmente, o tratamento dura cerca de 40 dias.
Já na hormonoterapia, procedimento que pode continuar enquanto a doença permanecer estável, ou seja, sem se alastrar para outras partes do corpo, são aplicados hormônios para bloquear a ação do estrógeno, hormônio sexual feminino presente no homem.

"Nunca passou pela minha cabeça que homem pudesse vir a ter esse tipo de doença. Quando descobri, foi um choque."
Renato Leandro Garcia Vieira, 35, maquinista aposentado

"Crianças e adolescentes eram os que mais olhavam com curiosidade para a cicatriz. Isso me incomodava um pouco."
Luiz Carlos Furlani, 55, metalúrgico aposentado

"No começo, era menor que um grãonzinho de feijão. Não doía, não incomodava."
Francisco Peres Romero, 71, aposentado

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