quinta-feira, 1 de julho de 2010

CATEQUESE DO SANTO PADRE-.S.JOSÉ CAFASSO

Catequese do Papa: São José Cafasso, outro modelo de sacerdote

Intervenção na audiência geral de hoje

CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 30 de junho de 2010 (ZENIT.org) - Apresentamos, a seguir, a catequese dirigida pelo Papa aos grupos de peregrinos do mundo inteiro, reunidos na Praça de São Pedro para a audiência geral.

Queridos irmãos e irmãs:

Terminamos há pouco tempo o Ano Sacerdotal: um tempo de graça que trouxe e trará frutos preciosos para a Igreja; uma oportunidade para recordar na oração aqueles que responderam a esta vocação particular. Neste caminho, acompanharam-nos, como modelos e intercessores, o Santo Cura d'Ars e outras figuras de santos sacerdotes, verdadeiras luzes na história da Igreja. Hoje, como anunciei na última quarta-feira, eu gostaria de recordar outro, que sobressai no grupo dos "santos sociais" em Turim do século XIX: trata-se de São José Cafasso. Sua lembrança parece apropriada, porque precisamente há uma semana se celebrava o 150º aniversário da sua morte, ocorrida na capital piemontesa no dia 23 de junho de 1860, aos 49 anos. Além disso, quero recordar que o Papa Pio XI, no dia 1º de novembro de 1924, aprovando os milagres para a canonização de São João Maria Vianney e publicando o decreto de autorização para a beatificação de Cafasso, aproximou estas duas figuras de sacerdotes com as seguintes palavras: "Com uma especial e benéfica disposição da Divina Bondade, assistimos a este surgimento da Igreja Católica de novos astros, o pároco de Ars e o venerável Servo de Deus José Cafasso. Precisamente estas duas belas, queridas, providencialmente oportunas figuras nos foram apresentadas hoje; pequena e humilde, pobre e simples, mas tanto mais gloriosa, a figura do pároco de Ars; e a outra bela, grande e complexa, rica figura de sacerdote, professor e formador de sacerdotes, o venerável José Cafasso". Trata-se de circunstâncias que nos oferecem a oportunidade de conhecer melhor a mensagem viva e atual que surge da vida deste santo. Ele não foi pároco, como o Cura d'Ars, mas sobretudo formador de párocos e de sacerdotes diocesanos, inclusive de sacerdotes santos, entre eles São João Bosco. Não fundou, como tantos outros sacerdotes do século XIX piemontês, institutos religiosos, porque sua "fundação" foi a "escola de vida e de santidade sacerdotal", que realizou, com seu exemplo e ensino, no Internato Eclesiástico de São Francisco de Assis, em Turim.

José Cafasso nasceu em Castelnuovo d'Asti, o mesmo povoado de São João Bosco, em 15 de janeiro de 1822. Foi o terceiro de quatro filhos. A última, irmã Marianna, seria a mãe do Beato José Allamano, fundador dos Missionários e Missionárias da Consolata. Nasceu no Piemonte de século XIX, caracterizado por graves problemas sociais, mas também por muitos santos que se empenhavam em solucioná-los. Estes estavam unidos entre si por um amor total a Cristo e por uma profunda caridade com os mais pobres: a graça do Senhor sabe difundir e multiplicar as sementes de santidade! Cafasso realizou o Ensino Médio e o biênio de filosofia no Colégio de Chieri e, em 1830, passou ao Seminário Teológico, onde, em 1833, foi ordenado sacerdote. Quatro meses mais tarde, ingressou no lugar que para ele seria a única e fundamental "etapa" da vida sacerdotal: o Internato Eclesiástico de São Francisco de Assis, em Turim. Entrou para aperfeiçoar-se na pastoral, mas lá fez frutificar seus dons de diretor espiritual e seu grande espírito de caridade. O internato, de fato, não era somente uma escola de teologia moral, onde os jovens sacerdotes, procedentes sobretudo do campo, aprendiam a confessar e a pregar, mas era também uma verdadeira e própria escola de vida sacerdotal, onde os presbíteros se formavam na espiritualidade de Santo Inácio de Loyola e na teologia moral e pastoral do grande bispo Santo Afonso Maria de Ligório. O tipo de sacerdote que Cafasso encontrou no internato e que ele mesmo contribuiu para reforçar - sobretudo como reitor - era o do verdadeiro pastor, com uma rica vida interior e um profundo zelo no cuidado pastoral: fiel à oração, comprometido na pregação, na catequese, dedicado à celebração da Eucaristia e ao ministério da Confissão, segundo o modelo encarnado por São Carlos Borromeu, por São Francisco de Sales e promovido pelo Concílio de Trento. Uma feliz expressão de São João Bosco sintetiza o sentido do trabalho educativo naquela comunidade: "No internato se aprendia a ser sacerdote".

São José Cafasso procurou levar a cabo este modelo na formação dos jovens sacerdotes, para que, por sua vez, estes se convertessem em formadores de outros sacerdotes, religiosos e leigos, segundo uma especial e eficaz corrente. Da sua cátedra de teologia moral, ele educava para que fossem bons confessores e diretores espirituais, preocupados pelo verdadeiro bem espiritual da pessoa, incentivados por um grande equilíbrio em fazer sentir a misericórdia de Deus e, ao mesmo tempo, um agudo e vivo sentido do pecado. Três eram as principais virtudes do Cafasso professor, como recorda São João Bosco: calma, delicadeza e prudência. Para ele, a verificação do ensino transmitido estava constituída pelo ministério da Confissão, à qual ele mesmo dedicada muitas horas do dia; a ele se dirigiam bispos, sacerdotes, religiosos, leigos eminentes e pessoas simples: a todos sabia oferecer o tempo necessário. De muitos, também, que chegaram a ser santos e fundadores de institutos religiosos, foi sábio conselheiro espiritual. Seu ensino nunca era abstrato, baseado somente nos livros utilizados nessa época, mas nascia da experiência viva da misericórdia de Deus e do profundo conhecimento da alma humana, adquirido no longo tempo transcorrido no confessionário e na direção espiritual: a sua era verdadeiramente uma escola de vida sacerdotal.

Seu segredo era simples: ser um homem de Deus; fazer, nas pequenas ações cotidianas, "o que possa representar maior glória de Deus e maior proveito das almas". Amava de forma total o Senhor, estava animado por uma fé bem arraigada, sustentado por uma oração profunda e prolongada, vivia uma sincera caridade com todos. Conhecia a teologia moral, mas conhecia também as situações e o coração das pessoas, de cujo bem se encarregava, como o bom pastor. Os que tinham a graça de estar perto dele se transformavam em outros bons pastores e confessores válidos. Indicava com clareza a todos os sacerdotes a santidade a ser alcançada precisamente no ministério pastoral. O Beato Clemente Marchisio, fundador das Filhas de São José, afirmava: "Entrei no internato sendo um grande travesso e um meio doido, sem saber o que queria dizer ser sacerdote, e saí de lá sendo totalmente diferente, plenamente imbuído da dignidade do sacerdote". Quantos sacerdotes foram formados no internato e depois seguidos espiritualmente! Entre estes, como já comentei, surge São João Bosco, que o teve como diretor espiritual durante 25 anos (de 183 a 1860): antes como clérigo, depois como sacerdote e depois como fundador. Todas as escolhas fundamentais da vida de São João Bosco tiveram como conselheiro e guia São José Cafasso, mas de uma maneira bem precisa: Cafasso jamais buscou formar em Dom Bosco um discípulo "à sua imagem e semelhança", e Dom Bosco nunca copiou Cafasso; imitou-o certamente nas virtudes humanas e sacerdotais, definindo-o, de fato, como "modelo de vida sacerdotal"; mas desenvolveu suas próprias atitudes pessoais e sua peculiar vocação - um sinal da sabedoria do mestre espiritual e da inteligência do discípulo: o primeiro não se impôs sobre o segundo, mas o respeitou em sua personalidade e o ajudou a ler qual era a vontade de Deus sobre ele. Queridos amigos, este é um ensinamento belíssimo para todos aqueles que estão comprometidos na formação e educação das jovens gerações e é também um forte convite sobre quão importante é ter um guia espiritual na própria vida, que ajude a entender o que Deus quer de nós. De maneira simples e profunda, nosso santo afirmava: "Toda a santidade, a perfeição e o proveito de uma pessoa está em fazer perfeitamente a vontade de Deus (...). Felizes nós, se conseguirmos verter assim nosso coração dentro do de Deus, unir de tal forma nossos desejos, nossa vontade à sua, que formem um só coração e uma só vontade: querer o que Deus quer, querer na forma, no tempo, nas circunstâncias que Ele quiser e querer tudo isso não por outro motivo a não ser porque Deus o quer".

Mas outro elemento caracteriza o ministério do nosso santo: a atenção aos últimos, em particular aos presos, que em Turim do século XIX viviam em lugares inumanos e inumanizadores. Também neste delicado serviço, levado a cabo durante mais de vinte anos, ele foi sempre o bom pastor, compreensivo e compassivo - qualidade percebida pelos detentos, que acabavam por ser conquistados por esse amor sincero, cuja origem era o próprio Deus. A simples presença de Cafasso fazia o bem: serenava, tocava os corações endurecidos pelas circunstâncias da vida e sobretudo iluminava e removia as consciências indiferentes. Nos primeiros anos do seu ministério entre os presos, ele recorria frequentemente às grandes pregações que chegavam a envolver quase toda a população carcerária. Com o passar do tempo, privilegiou a catequese pequena, feita nos colóquios e nos encontros pessoais: respeitoso das circunstâncias de cada um, enfrentava os grandes temas da vida cristã, falando da confiança em Deus, da adesão à sua vontade, da utilidade da oração e dos sacramentos, cujo ponto de chegada é a Confissão, o encontro com Deus, feito para nós misericórdia infinita. Os condenados à morte foram objetos de cuidados humanos e espirituais especialíssimos. Ele acompanhou ao patíbulo, após tê-los confessado e administrado a Eucaristia, 57 condenados à morte. Acompanhava-os com profundo amor, até a última respiração da sua existência terrena.

Morreu no dia 23 de junho de 1860, após uma vida oferecida totalmente ao Senhor e consumada pelo próximo. Meu predecessor, o venerável servo de Deus Papa Pio XII, no dia 9 de abril de 1948, proclamou-o padroeiro das prisões italianas e, com a exortação apostólica Menti nostrae, em 23 de setembro de 1950, o propôs como modelo aos sacerdotes comprometidos na confissão e na direção espiritual.

Queridos irmãos e irmãs: que São José Cafasso seja um convite para todos a intensificar o caminho rumo à perfeição da vida cristã, a santidade; em particular, que recorde aos sacerdotes a importância de dedicar tempo ao sacramento da Reconciliação e à direção espiritual, e a todos a atenção que devemos ter com os mais necessitados. Que nos ajude a intercessão da Beata Virgem Maria, a quem São José Cafasso era devotíssimo e chamada de "nossa querida Mãe, nosso consolo, nossa esperança".

[No final da audiência, o Papa cumprimentou os peregrinos em vários idiomas. Em português, disse:]

Queridos irmãos e irmãs:

Na semana passada, fez cento e cinquenta anos que morreu São José Cafasso, que resplandece na Igreja pelos seus dotes de diretor espiritual e o seu grande espírito de caridade. Este levou-o a privilegiar os últimos, os encarcerados: durante mais de vinte anos, foi o pastor compreensivo e compassivo dos reclusos de Turim. Por isso depois foi proclamado pelo Papa Pio XII patrono dos estabelecimentos carcerários. São José Cafasso não foi pároco como o Santo Cura d'Ars, mas formador de párocos e sacerdotes diocesanos; mais ainda, formador de sacerdotes santos, entre os quais se conta São João Bosco. O seu segredo era simples: ser um homem de Deus, procurando, nas ações humildes de cada dia, fazer tudo aquilo que pode servir para a maior glória de Deus e o bem das almas.

Amados peregrinos de língua portuguesa, em particular quantos vieram de Angola e do Brasil para acompanhar os seus Arcebispos que ontem receberam o pálio, símbolo de uma especial união com Cristo Bom Pastor e com o seu Vigário e Sucessor de Pedro no governo do povo de Deus: saúdo os fiéis de Lubango com Dom Gabriel Mbilingi, de Belém do Pará com Dom Alberto Corrêa, e de Olinda e Recife com Dom Antônio Saburido. À Virgem Maria confio as vossas vidas, famílias e dioceses, para todos implorando o precioso dom do amor e da unidade sobre a rocha de Pedro, ao dar-vos a bênção apostólica.

[Tradução: Aline Banchieri
©Libreria Editrice Vaticana]

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