segunda-feira, 1 de novembro de 2010

QUEM SÃO OS SANTOS?





Quando pensamos nos santos, às vezes os vemos como seres que caminharam nesta terra já totalmente restaurados à imagem e semelhança de Deus, como Adão e Eva antes do pecado. Outras vezes pensamos que eles foram pessoas tímidas, solitárias, que desprezaram esta vida a fim de pensar só na morte e no que vinha depois. Mas ao contrário do que muitos pensam, os santos são pessoas normais, que ao longo de sua vida fizeram escolhas fundamentais que os levaram a uma união cada vez maior com Deus.
Quando as Sagradas Escrituras nos mostram os primeiros santos da Igreja primitiva, que são os Apóstolos, não o fazem de forma desencarnada, mas ao contrário, nos mostram estes discípulos de Jesus como verdadeiros seres humanos, que tiveram, conflitos, medos e lutas interiores. Muitos deles tinham cometido gravíssimos pecados, e mesmo depois de conhecerem Jesus ainda sofreram quedas enormes até sair da superficialidade, de suas ambições mundanas, do horror ao sofrimento.
Ao longo de sua conversão, os discípulos tiveram lutas interiores, feriram os outros e se feriram, discutiram, guardaram rancor, se criticaram... para na medida em que esta falsa maneira de ser era exposta, pudesse ser expulsa deles até enfim começarem a ser eles mesmos, perdendo suas “caras falsas”, para irem adquirindo sua verdadeira feição de homens de Deus.
Os santos são homens e mulheres que buscando ardentemente a Deus, alcançam um entendimento tal de si mesmos, que abandonam sua própria justiça e desejos de superioridade, para aceitar os outros como são. Compreendem que por si mesmos e independentes de Deus jamais podem sair de suas misérias, e entendem que sem Deus nada se pode fazer.
Todo este processo só pode se assemelhar a um novo nascimento. Jesus disse um dia a Nicodemos que para ser íntimo de Deus à semelhança de Sua intimidade com o Pai era necessário “nascer de novo”, nascer da água e do Espírito Santo.
Jesus passou muito tempo preparando os seus discípulos para este novo nascimento. Aqueles homens foram retirados de uma vida comum, como a nossa, para o convívio íntimo de Jesus. Uns eram pescadores incultos, outro era coletor de impostos... todos homens comuns. Realmente, a única esperança que eles tinham e que nós temos para ser santos é nascer do alto, nascer do Espírito Santo.
Eles acompanharam Jesus de perto descendo dia-a-dia com Ele o caminho do Calvário, e caindo muitas vezes, sempre que desejavam “inventar” outro caminho para si mesmos que não era o caminho indicado pelo Mestre. E quando chegou o momento crítico, do aparente fracasso total, seu coração se apertou, eles tiveram medo, e encheram-se de tristeza. Mas quando Jesus ressuscitou e apareceu a eles, foram inundados da alegria que o mundo não dá nem pode tirar. Eles já haviam passado pelo fogo para aprender a ser humildes, reais.
Esta paz que a “gente normal” não pode compreender foi o resultado de um doloroso treinamento que haviam passado na sua convivência com Jesus. Haviam aprendido um caminho novo, o caminho do Senhor, uma nova maneira de viver e relacionar-se. Eles haviam aprendido a depender de Jesus.
Mas quando subiu ao Céu e lhes enviou Seu Espírito, Jesus passou a estar com eles de uma forma nova. Eles já não podiam ver nem tocar em Jesus como antes, mas algo de mais importante e comprometedor havia acontecido: pelo poder do Espírito Santo, Jesus e o Pai agora habitavam dentro deles, assim como habitam em nós pelo nosso Batismo. Isso é grandioso!
Assim é que a medida em que davam oportunidade a Jesus de usar seus olhos, suas mãos, suas pernas, sua inteligência, sua afetividade, sua vontade em prol do Amor, ficavam cada vez mais plenos do Espírito, foram se tornando mansos, pacientes, e misericordiosos, inclusive com aqueles que não eram assim com eles. Assim é que, a cada dia morria o homem velho e nascia o homem novo dentro de cada um.
Este é o processo simples e ao mesmo tempo tão profundo que se instala em nós quando recebemos o Espírito Santo e damos espaço para que Ele gere Jesus a cada dia em nós: a morte do homem e da mulher velha que éramos, escravos do egoísmo, e o nascimento do homem e da mulher nova que Deus sonhou quando criou cada um de nós.

Todos somos chamados
Ser santo é chamado de Deus para cada um de nós (cf......), e não somente para alguns privilegiados que conviveram com Jesus como no tempo dos Apóstolos. O próprio Evangelho faz-nos ver que infelizmente muitos dos que viveram no tempo de Jesus não creram nele, como atesta S. João: “Estava no mundo, e o mundo foi feito por ele, mas o mundo não o conheceu. Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam. Mas a todos os que o receberam, aos que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem Filhos de Deus. Os quais não nasceram do sangue nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas sim de Deus” (Jo 1,10-13).
O caminho da santidade não é um caminho inacessível a nenhum de nós, pois existe um caminho único que só nos é estranho e impossível para nós enquanto não nos decidimos a trilhá-lo. Este caminho não exclui a dor, nem a renúncia, nem as tentações, nem a nossa humanidade, justamente porque é como o caminho de Jesus, um caminho da morte para a Ressurreição. Aqui e acolá surge o medo das “mortes” que virão pela frente, mas para trilhá-lo na alegria é preciso abraçar Jesus do modo como ele se apresenta hoje, com os olhos fixos em Jesus e no que Ele nos pede agora.

O jovem Giorgio Frassati
Não há como falar de santidade sem colocar um exemplo vivo. Alguém cuja vida fale muito mais do que as palavras que estamos colocando. A 20 de Maio de 1990, na Praça de São Pedro, abarrotada de fiéis, o Papa João Paulo II beatificou Giorgio Frassati como “o homem das Bem-Aventuranças. Este homem do nosso século, nascido na Itália, era filho de uma pintora e de um homem influente, porém agnóstico.
Como muitos de nós, Giorgio estudou numa escola do Estado, e logo depois numa escola Jesuíta, onde desenvolveu uma profunda vida espiritual que nunca deixou de compartilhar com os amigos. A Santa Eucaristia e a Virgem Maria foram dois polos de seu mundo de oração. Aos 17 anos ingressou na sociedade S. Vicente de Paulo e dedicou a maior parte de seu tempo livre a serviço dos enfermos e necessitados que vinham da primeira guerra mundial. Decidiu então estudar para ser Engenheiro de Minas, para “servir melhor a Cristo entre os mineiros” como disse a um amigo.
No entanto, seus estudos não lhe afastaram de seu serviço a Deus, nem de seu engajamento nas necessidade do próximo. Com o pouco que dispunha para pagar seu transporte, ajudava os pobres, sendo para eles um verdadeiro servo, porque sua caridade não consistia somente em dar-lhes algo, mas em entregar a si mesmo por inteiro.
Este jovem amava os esportes, e organizava excursões para escalar montanhas, com seus amigos mais afastados da fé, pois via nisto grande oportunidade de apostolado. Amava a arte, a música, freqüentando a ópera e os museus, mas sua grande afeição eram os pobres, sua última preocupação quando estava para falecer aos 24 anos, vítima de poliomielite. Na véspera de sua morte, com uma mão paralisada, escreveu para um amigo recomendando um pobre que atendia.
Seu funeral surpreendeu sua família pelo número de pobres que ele havia atendido durante sete anos e que agora choravam sem consolo. No entanto, estes pobres também ficaram surpreendidos ao verem que aquele jovem tão dedicado a eles era de uma família tão abastada.
Testemunhando a seu respeito, o grande teólogo Karl Rahner diz que: o que mais surpreendia era a sua pureza, sua alegria radiante, sua piedade, sua liberdade de filho de Deus por tudo aquilo de realmente belo que existe no mundo, seu sentido social e a consciência que tinha de compartilhar da vida e do destino da Igreja. Porém mais assombroso que tudo era que tudo isto aparecia nele de forma espontânea, natural, plena de calor humano e virilidade... em um ambiente onde se considera o cristianismo superado surge um cristão que respira alegria de viver... que vive o cristianismo com uma espontaneidade que quase dá medo”. Poder-se-ia dizer que este homem não tinha problemas, mas não se sabe a que preço os enfrentou, com a graça da fé, comendo a cada dia o pão da morte e da vida e se consumindo por amor aos irmãos”.
Este testemunho fala muito a nós pelo testemunho da alegria, que tantas vezes aparece para nós como algo que desaparece do caminho da santidade. A esta objeção tão comum a nosso tempo, devido às falsas alegrias com as quais convivemos, Giorgio responde em uma das cartas enviadas à sua irmã durante sua enfermidade: “Me perguntas se estou alegre? Como não estar se a fé me dá forças? A tristeza deve ser varrida da alma do católico! A dor não é a tristeza, que é a mais detestável de todas as enfermidades. Esta enfermidade é quase sempre produto do ateísmo; porém o fim para o qual fomos criados nos assinala um caminho marcado por muitos espinhos, porém de nenhum modo triste. É alegre, inclusive através da dor” (Carta a sua irmã – 14/11/25).

Ana Carla Bessa
Comunidade de Aliança Shalom

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