domingo, 20 de setembro de 2009

COMENTÁRIO ÀS LEITURAS DO DOMINGO XXV DO TEMPO COMUM




O sentido da vida cristã não é a procura de grandezas, mas antes a busca da humildade e da simplicidade.
XXV DOMINGO DO TEMPO COMUM
A segunda leitura (Tiago 3,16-4,3) põe-nos de sobreaviso contra a inveja e o espírito de discórdia. Parece estranho que tais sentimentos possam surgir e crescer nas comunidades cristãs, mas nós somos todos pecadores. Dói-nos que alguém valha mais do que nós, está-nos na massa do sangue discordar. De resto, e infelizmente, a religião presta-se à cegueira. Imaginamos que a verdade de Deus precisa de ser defendida, e que somos nós os depositários e os paladinos dessa verdade. Por isso, houve cruzadas contra os maometanos, perseguições aos judeus, guerras entre católicos e protestantes, inquisição contra os que não guardam os mandamentos como nós achamos ou publicam livros que nos parecem errados. Nesta Epístola, S Tiago recorda que a sabedoria que vem de Deus é pura, pacífica, indulgente, dócil, cheia de misericórdia e de bons frutos, imparcial e sem hipocrisia. Recorda que é na paz que se semeia a justiça.

Importa que as comunidades cristãs se empenhem num ecumenismo activo, humilde e generoso. O Senhor quis que os seus discípulos permanecessem unidos, disse que as divisões dificultariam a conversão do mundo: “Pai, rogo por todos (...), para que todos sejam um só, como Tu, Pai, estás em mim e Eu em ti; para que assim eles estejam em nós; e o mundo acredite que Tu me enviaste.” (Jo 17, 20-21). Não fizemos a vontade de Jesus, deixámos que os nossos interesses mesquinhos, as nossas vaidades e cegueiras, a pouco e pouco nos separassem. Fizemos mal uns aos outros, impedimos a conversão de muitos mais.

Adianta agora muito pouco apurar quem é que teve as culpas maiores. Mas temos de procurar caminhos. Um deles é voltarmos à palavra de Deus, expressa na Escritura e sobretudo nos Evangelhos, de preferência a insistirmos nos nossos “bons autores”. O outro é tentarmos conversar uns com os outros sem reservas nem rancores. Mesmo que tenhamos opiniões teológicas diferentes a respeito da graça, a eucaristia, do lugar do papa ou da missão dos bispos, podemos juntar-nos para dizer o Pai Nosso e para rezar em silêncio, para trabalhar a favor dos pobres, da justiça, da paz. Acreditemos ou não em canonizações, tem sentido que honremos em comum aqueles que sacrificaram a liberdade e a vida pela fé e pelo bem dos homens, tenham pertencido a esta ou àquela confissão.

O Concílio II do Vaticano ensinou que “os homens têm o dever de buscar a verdade... esse dever atinge e obriga a consciência humana ... (mas) a verdade não se impõe senão pela sua própria força... A pessoa humana tem o direito à liberdade religiosa. Esta liberdade consiste em que todos os homens devem estar livres de coacção, quer por parte dos indivíduos, quer dos grupos sociais ou de qualquer autoridade humana; de tal modo que em matéria religiosa ninguém seja forçado a agir contra a própria consciência, nem impedido de proceder segundo a mesma.” (Declaração Dignitatis Humanae,1,2). Dito de outra maneira: temos o dever de procurar a verdade, temos o direito de proclamar aquilo reconhecemos como verdadeiro, não podemos impor a verdade a ninguém. Podemos e devemos, sim, rezar pela conversão dos homens. Podemos dar a nossa vida, não podemos matar por causa da verdade.

O Evangelho (Marc 9,30-37) conta que, após a transfiguração, Jesus anunciou aos apóstolos que caminhava para Jerusalém ao encontro da contradição e da morte; eles pensaram que era mais uma parábola; e, no caminho para Cafarnaum, foram conversando de coisas práticas: que lugares ocupariam, quando Jesus tomasse conta do poder. Em casa, Jesus chamou-os e disse-lhes: “Se alguém quiser ser o primeiro, há-de ser o último de todos e o servo de todos.” Vem a propósito.
20 de Setembro de 2009

do Padre João Resina Rodrigues

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