domingo, 12 de julho de 2009

MEDITANDO AS LEITURAS DO XV DOMINGO DO TEMPO COMUM


Comentário às Leituras

"Como se faz uma Terra Boa?"
Escutar a Palavra de Deus não é um exercício de audição, mas um exercício interior de acolhimento e transformação do Coração segundo os critérios dessa Palavra. A Palavra de Deus é a Sabedoria de Deus ao nosso alcance, por Graça. A possibilidade de Saborear a Vida com o Seu próprio Paladar. E a Palavra de Deus é uma Semente, ou seja, é possibilidade de Vida Nova! O destino da Semente conta com a água que bebe, como diz a primeira leitura, e com a terra que a acolhe, como diz o evangelho. A Semente é a Palavra de Deus; o Semeador é Cristo; a Água é o Espírito Santo; a Terra é o Coração que a acolhe. E aqui é que se joga tudo… porque o resto está garantido!
O Coração que “está à beira do Caminho” é aquele que “não compreende a Palavra”. Se a compreendesse, punha-se a Caminho, porque a Palavra de Deus desinstala e encaminha! O que não compreende a Palavra precisa de mediações para ser conduzido ao seu Sentido e Importância. A Palavra de Deus não acontece nas nossas vidas senão por mediações e sinais. É fundamental haver quem Explique a Palavra de Deus [em latim, Ex-Pelicare: tirar a pele, esfolar], quem a transforme em alimento de Vida para todos. Com efeito, a escuta da Palavra de Deus chega ao seu alcance máximo em contexto comunitário. Por isso Jesus Explica esta parábola aos seus Discípulos íntimos, para os tornar capazes de Explicarem também a sua Palavra a todos aqueles aos quais os enviaria depois.O Coração que “está em sítios pedregosos” é aquele que está sempre pronto para ouvir a novidade do último “pregador da moda”, aquele que no fim bate palmas e elogia o sermão, aquele que levado pelo fulgor do momento promete a si próprio, a Deus e aos irmãos “mundos e fundos” de Conversão que duram três ou quatro dias! São os do entusiasmo inconstante, que gostam de ouvir coisas novas mas continuam com as lógicas antigas! Andam sempre à procura das “novas modas” dos movimentos da Igreja ou dos padres mais populares lá do sítio, mas continuam a pensar à moda antiga!Além disso, são também aqueles inconstantes que não têm raiz para se firmarem! Querem que a Semente dê folhas e frutos sem deitar raiz primeiro. À mínima dificuldade, ao mais pequeno sacrifício de fidelidade, à primeira perseguição por causa da Palavra, tudo morre. A beleza e a fecundidade da Vida não se jogam nas folhas e nos ramos floridos, mas na raiz!O Coração que “está entre espinhos” é aquele que coloca a escuta da Palavra de Deus no rol dos afazeres. E, certamente, entre as coisas Importantes e as Urgentes, as segundas costumam ganhar sempre! Escutar a Palavra implica dar-lhe espaço para ser compreendida, dar-lhe Importância, dar-lhe tempo para ser explicada interiormente pelo Espírito Santo, dar-lhe o papel de ajuizar as nossas opções, atitudes e critérios. A Semente entre os espinhos é a experiência da Palavra sufocada pelas coisas urgentes do corre-corre quotidiano.A Palavra de Deus é fonte de Critérios e apontadora de um Sentido pleno de viver. Por isso, molda Opções e Atitudes. Mas nada disto acontece de maneira automática, como uma Semente não dá frutos cinco minutos depois de estar na terra! E se estivermos atentos, damo-nos bem conta de quais são os “espinhos” que é necessário e possível ir cortando… aquilo que além de sufocar a Palavra, só nos pica, e não nos dá nem frutos para comer nem flores para admirar…Libertar a terra das pedras que não deixam a Semente criar raiz e limpá-la dos espinhos que a sufocam são dois exercícios fundamentais para transformar o Coração em terra boa. O Coração que “é boa terra” é aquele que Escuta, Compreende e Dá Fruto! “Uns cem, outros sessenta, outros trinta”, ou seja, cada um segundo a sua própria medida!Telefonei ao meu avô para lhe perguntar como é que ele fazia para manter uma terra boa, lá nos campos. Deu-me três segredos:1. disse-me que quando uma terra não é muito boa “para receber a semente”, a primeira coisa a fazer é revolvê-la toda com o arado, o mais fundo possível, “para trazer a terra do fundo para cima, e deixá-la respirar” durante uns dias. “A terra do fundo é sempre melhor”, disse ele. E ele nem sequer imaginava que eu estava a ouvir tudo o que me dizia como símbolo do nosso Coração… “A terra do fundo é sempre melhor…” Sim, é verdade! Mas nós muitas vezes queremos semear à superfície, na casca da Vida, no lado de fora da existência…2. depois, há que não deixar a terra habituar-se à sementeira: “se um ano é batatas, no outro ano semeia-se trigo! Um ano batatas, outro ano trigo!” Porque quando uma terra se habitua à semente, normalmente “começa a dar menos, porque se cansa”. E eu voltei a sorrir… O meu avô falou-me do perigo da habituação, que conduz sempre ao cansaço e à desilusão…3. finalmente, disse-me que é sempre bom, mais ou menos de sete em sete anos, “deixar a terra descansar um ano”. “Para que a terra ganhe força”, explicou-me. E eu percebi de novo. A importância de pararmos… Pararmos para nos darmos descanso e silêncio, para ficarmos mais fortes, para nos enriquecermos de nutrientes… aqueles do Coração, claro!Depois, disse “Obrigado” ao meu avô. E ele ainda agora não imagina as coisas bonitas que me disse! Sabes, é que o meu avô não conhece uma única letra do alfabeto, mas Deus também nos fala assim…

Sem comentários:

Enviar um comentário